20 de março de 2015

Arthur: rei, cavaleiro, mártir e santo...


REX ARTVRVS

Mosaico della Cattedrale di Otranto - Italia (1163-1166)

Nasci numa sexta-feira de paixão, não tenho direito a santo do dia. Os dois nomes próprios que me deram na pia batismal, Artur-Henrique, podem traduzir-se à letra por o urso da casa grande. Satisfaz-me o ego. O celta e o teutónico juntos produzem um efeito aristocrático mais adequado para os tronos do que para os altares.

O lendário rei Arthur dos romances medievais de cavalaria do ciclo da Távola Redonda não carece de apresentações. Vive na nossa imaginação e é tudo. Inspirou multidões de leitores|ouvintes ao logo dos séculos. Está presente na nossa matriz cultural mais profunda. Passou a ter uma existência real nas histórias que a história conta.

Numa passagem rápida pela Île-aux-Moines, a maior ilha do golfo do Morbihan, encontrei na igreja local um enigmático Saint Arthur, representado num vitral modesto colocado num lugar de destaque do deambulatório. Nada como viajar pela Bretanha para encontrar um rei e um santo a prestigiar o nome com que sou chamado.

Pesquisas posteriores revelaram-me um desconhecido Saint Arthur of Glastonbury, monge católico imolado em 1539 por Henrique VIII, por se ter oposto à separação da Igreja de Inglaterra de Roma. Duma assentada, passei a ter na minha onomástica pessoal dois reis e um mártir. De facto, não há fome que não dê em fartura.

1 comentário:

  1. Tanto trono e altar utilizados para nomear um republicano convicto e um agnóstico praticante é um desperdício tremendo a que se pode colar a etiqueta dramática de ironia trágica dum destino desatento às leis do livre-arbítrio.

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