25 de outubro de 2015

O pelicano do Príncipe Perfeito

EMBLEMA DE D. JOÃO II

[Capela de São Jorge - Aljubarrota]

¡Murió el Hombre!  terá dito Isabel de Castela aquando da morte de D. João II de Portugal, ocorrido a 25 de outubro de 1495. É que a Rainha Católica guardava ainda na memória o papel desem-penhado pelo Príncipe Perfeito nas negociações da partilha do mundo, que culminara no ano anterior com a assinatura do Tratado de Tordesilhas. A deslocação da linha divisória das 100 para as 370 léguas a oeste de Cabo Verde tinha permitido ao primo Avis integrar no Senhorio da Guiné uma parcela considerável do Novo Mundo, a Terra de Vera Cruz ou Brasílica. A prima Trastâmara ficava-se assim com o que restava das Índias Ocidentais ou Américas.

Ignora-se o que terá dito D. Leonor de Lencastre quando teve conhecimento no Paço de Alcácer do Sal do falecimento do marido e primo coirmão em Alvor. Provavelmente terá dado um suspiro de alívio. É que segundo dizem as más-línguas, a fundadora das Mise-ricórdias terá mandado envenenar o soberano. Razões não lhe faltariam para tal. Enviara desta para melhor aquele que apunhalara o duque de Viseu e mandara degolar o duque de Bragança. Um irmão e um cunhado. Impedia também definitivamente que um bas-tardo real do Príncipe Tirano subisse ao trono, colocando em seu lugar D. Manuel I, o irmão mais novo e até então Duque de Beja.

«Jesus!» – terá dito o monarca lusitano antes de exalar o último suspiro. Síntese duma vida pautada pela aplicação da divisa real «Pola ley e pola grey», que tem como corpo emblemático um pelicano eucarístico a alimentar as crias com o seu próprio sangue. O criador do estado moderno nos reinos que lhe haviam sido confiados é aquele a quem a tradição garante ter dito a propósito da mão de ferro com que domara a nobreza: «Eu sou o senhor dos senhores, não o servo dos servos». Só assim se compreende que quem herdara do Africano as estradas e os caminhos do reino tivesse legado ao Venturoso um império de meio mundo.

2 comentários:

  1. É bom saber da história os pormenores da vida pessoal dos soberanos e seus pares e súbditos. Torna o conhecimento do nosso mundo mais interessante!

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