16 de novembro de 2017

As lágrimas de dor e alegria de Dom Pedro de Portugal, Rei dos Catalães

PAINE POUR JOIE

Le mot associé aux armes du connétable de Portugal

Chronique générale de l’Espagne et du Portugal

[Paris, BNF, Ms. Port. 9, fol. 1, vers 1454-1463]

Altos e baixos da roda da fortuna

Quando D. Fernando I de Portugal morreu, sucedeu-lhe no trono a filha D. Beatriz, então casada com Juan I de Castela. O receio da substituição dos Borgonha lusitanos pelos Trastâmara hispânicos deu início a uma crise dinástica que passou à História com a designação de Interregno de 1383-85. O impacto só foi solucionado com a vitória decisiva do Mestre de Avis em Aljubarrota e da sua eleição como D. João I de Portugal nas Cortes de Coimbra. Do seu casamento com D. Filipa de Lencastre nasceria a Ínclita Geração.

D. Pedro de Avis e Urgell (1429-1466) pertence a essa linhagem celebrada por Camões n' Os Lusíadas. Filho do duque D. Pedro de Coimbra, regente do reino durante a menoridade de D. Afonso V, foi nomeado neste período Condestável de Portugal, cargo que exerceu até à morte do pai na Batalha de Alfarrobeira (1449). Caído em desgraça, é obrigado a exilar-se em Castela, onde sobrevive como escritor. A ele se deve a Sátira de felice e infelice vida (c. 1453-1455), novela em prosa cujo original português se perdeu.

Quando Martí I de Aragão morreu sem descendentes, abriu uma crise dinástica que se prolonga até ao Compromisso de Caspe. O Infante de Castela Fernando de Antequera vence a disputa, dá fim ao Interregno de 1410-12 e sobe ao trono até então vago. O conflito estava longe de terminar, dado que em 1464 D. Pedro de Portugal foi reconhecido pela Genaralitat do Principado da Catalunha como Rei de Aragão e Valência, Conde de Barcelona e Senhor de Maiorca e Sardenha, por ser neto do Conde Jaume II de Urgell.

Os altos e baixos que o destino lhe reservou ao longo da vida, terão inspirado o filho do Infante das Sete Partidas a escolher a sua divisa pessoal, gravada num escudo em forma de lágrima. A figura alegórica da «roda da fortuna» como corpo e o mote «Paine pour joie» (sofrer para fruir) como alma. Dificilmente o ex-Condestável de Portugal e Rei dels Catalans podia ter escolhido um emblema que melhor resumisse as adversidades e satisfações que o seu percurso pessoal pelos trilhos do poder lhe haviam reservado. 
Pere IV, dit «El Conestable de Portugal», Pacífic de Barcelona, 1464-1466.
[Museu Nacional d’Art de Catalunya]

2 comentários:

  1. Uma divisa pessoal que parece bem ligada à incrível história da Catalunha. Beli registo, Prof.!

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  2. Histórias incríveis dum país e duma família, marcadas, todas elas, pelo destino trágico dos protagonistas. O Infante das Sete Partidas a desaparecer na batalha de Alfarrobeira e o Rei de Catalães de tísica em Granollers. A roda da fortuna no seu maior. A tal «Sátira de felice e infelice vida» já prevista na novela com que o ex-Condestável de Portugal e futuro Rei de Catalans inscreveria o nome no universo da literatura.

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